sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mãe só morre quando quer


“Em geral, as mães, mais que amar os filhos, amam-se nos filhos”

Eu tinha 7 anos quando matei minha mãe pela primeira vez. Eu não a queria junto de mim quando
chegasse à escola em meu primeiro dia de aula. Eu me achava forte o suficiente para enfrentar os desafios
que a nova vida iria me trazer.

Poucas semanas depois descobri aliviado que ela ainda estava lá, pronta para me defender não somente
daqueles garotos brutamontes que me ameaçavam, como das dificuldades intransponíveis da tabuada.

Quando fiz 14 anos eu a matei novamente. Não a queria me impondo regras ou limites, nem que me
impedisse de viver a plenitude dos vôos juvenis. Mas logo no primeiro porre eu felizmente a redescobri viva.
Foi quando ela não só me curou da ressaca, como impediu que eu levasse uma vergonhosa surra do meu
pai.

Aos 18 anos achei que mataria minha mãe definitivamente, sem chances para ressurreição. Entrara para a
faculdade, iria morar em república, faria política estudantil, atividades em que a presença materna não cabia
em nenhuma hipótese. Ledo engano! Quando me descobri confuso sobre qual rumo seguir, voltei à casa
materna, único espaço possível de guarida e compreensão.

Aos 23 anos me dei conta de que a morte materna era possível, apenas requeria lentidão... Foi quando me
casei, finquei bandeira de independência e segui viagem. Mas bastou nascer o primeiro filho, para descobrir
que o bicho mãe se transformava num espécime ainda mais vigoroso, atendendo por “avó”. Para quem
ainda não viveu a experiência, avó é a mãe em dose dupla!

Apesar de tudo continuei acreditando na tese da morte lenta e demorada, e aos poucos fui me sentindo
mais distante e autônomo, mesmo que a intervalos regulares ela aparecesse em minha vida
desempenhando papéis importantes e únicos, papéis que somente ela poderia protagonizar.

Mas o final desse história, ao contrário do que eu sempre imaginei, foi ela quem definiu: Quando menos
esperava, ela decidiu morrer. Assim sem mais, nem menos, sem pedir licença ou permissão, sem data
marcada ou ocasião para despedida. Ela simplesmente se foi, deixando a lição que mães são para sempre,
ao contrário do que imaginei. São elas que decidem o quanto esta eternidade pode durar em vida, e o
quanto fica relegado para o etéreo terreno da saudade.

Não sei se a vida é curta ou longa de mais para nós, mas sei que devemos amar as pessoas enquanto elas
estão por aqui. É por isso que temos que amá-la sempre e não matá-la em vida, pois nunca saberemos
quando ela vai querer partir. O vazio que fica nunca conseguiremos preencher. Para quem ainda a tem ao
seu lado, ame-a... abrace-a, dê-lhe colo! E para quem já não a tem mais ao seu lado, guarde suas
lembranças no mais preciso dos baús, pois mesmo de onde ela estiver, vai entender o seu recado...
e vai chorar quando você chorar, vai sorrir quando você sorrir, vai velar seu sono, como fazia quando você
era criança.

Não espere ela partir para lhe dar amor. Um dia você vai descobrir que talvez a pessoa que mais lhe amou
na vida foi ela, incondicionalmente, desde que você surgiu nesta vida. Se ela estiver ao seu lado, dê-lhe um
beijo e um abraço e diga o que ela sempre quis ouvir... “Mamãe, eu te amo, obrigado por você existir”.

Desconhecido

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