domingo, 31 de maio de 2009

ANTES QUE O DIA TERMINE! por Rev. Mauricio Baniski


Hoje pela manhã, lendo o livro do shinyashiki, me chamou muita atenção este relato:


Um dia, quando já era médico, fui passar um fim de semana na casa dos meus pais, em Santos. No sábado à noite, resolvi sair e, quando retornei, lá pelas duas da madrugada, percebi que a luz estava acesa no escritório de meu pai.
Dei um sorriso, daqueles que filho dá quando sente que é uma oportunidade para fazer uma brincadeira com o velho. Meu pai sempre foi uma pessoa muito exigente e disciplinada e me lembrava o tempo todo de apagar as luzes da casa. Imediatamente, pensei: “amanha cedo vou atazanar o velho”. Caminhei em direção ao escritório para apagar a luz e percebi que lá dentro havia alguém. Fiquei surpreso, pois meu pai nunca dormia depois das onze. Seria um estranho? Um ladrão? Quem estaria lá? Entrei com ousadia e a impulsividade comuns aos jovens, mas, quando cheguei perto, ouvi o choro de meu pai. Acho que foi a primeira vez que o vi chorando. Preocupado com a possibilidade de estar acontecendo alguma desgraça, entrei e perguntei:
- Pai, o que está havendo?
Ele olhou para mim com uma expressão muito angustiada e disse:
- Sabe, filho, estou muito triste, porque sinto que perdi a minha vida. Realizei todas as metas a que me propus: fui uma criança pobre que queria ter dinheiro, e consegui dinheiro. Queria ter uma casa linda, e a gente tem. Queria conquistar o respeito das pessoas, e hoje elas me respeitam. Realizei todas as minhas metas, filho, mas não consegui ser feliz... Não vi vocês crescendo e tenho a sensação que não vivi em paz. É muito triste, filho. Depois de dois enfartes, tenho a impressão que vou morrer sem ter conseguido ser feliz. Fiz coisas que os outros esperavam que eu fizesse, que desejavam que eu fizesse, mas fico me perguntando se fiz as coisas que me fariam feliz. Agora tenho a sensação que é muito tarde para viver.
Ficamos conversando durante muito tempo e, quando os raios da manha penetraram por entre as frestas da janela, já mais calmo, ele me contou:
- Sabe, filho, às vezes percebo você correndo atrás de sucesso e se esquecendo da vida, esquecendo de si mesmo. Quero lhe pedir que não viva simplesmente para ter o sucesso e a admiração dos outros, viva para ser feliz. Não quero que, no futuro, você conclua que conseguiu a admiração de todos mas não foi feliz, pois a dor é muito grande.
A gente se abraçou e, a partir daquele momento, algo mudou entre nós. Passamos a ser amigos de verdade. Depois dessa conversa, meu pai ainda viveu mais ou menos quinze anos e, quando ele se foi, deixou uma herança muito especial: a transformação que fez em sua vida.
Ele mudou intensamente. Nos últimos anos, tornou-se mais afetivo, mais carinhoso, frequentemente ligava para dizer que estava com saudade e a gente conversava muito. Lembro-me dos seus últimos anos de vida como um presente muito lindo que recebi.

O Sucesso é Ser Feliz (pgs.171-172) Shinyashiki, Roberto

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